Um convite para reinventar-se

Tenho pensado, nestas últimas semanas, sobre reinventar a rotina depois de um ano em que a pandemia nos aprisionou.

Lidei com minha vida neste último ano de modo a considerar somente a crise da saúde, que marcava uma importante desigualdade social. Penso que neste segundo ano de pandemia é preciso olhar para dentro.

Respirei fundo, revirei os olhos (quem me conhece sabe que faço isso sempre) e olhei com carinho para minha vida. Sim, carinho, você já se permitiu fazer um carinho em si?

Reavaliei meus valores mais profundos e me lembrei do quanto gosto de sorrir e fazer sorrir. Decidi ressignificar os rituais de bem-estar coletivo, que hoje estão reduzidos a telas, para que estes possam me conectar com meus pares de forma genuína.

Ao longo destes anos de atuação como psicóloga fui convidada inúmeras vezes a me olhar e reinventar meu fazer. E foi este fazer que me garantiu chegar até este março de 2021.

Quando o seu fazer representa uma das partes de sua vida, reinvente-se, acaricie sua rotina e lembre-se: somos adaptáveis e sempre podemos escolher uma nova forma de existir e poder ser resilientes em tempos tão áridos.

Sugiro que retome atividades simples que proporcionem alegria. Não acredito que com estas ações faremos milagres, mas tem me ajudado a devolver um quentinho no coração.

Abraçar e agradecer (Maria Bethânia)

Chegar para agradecer e louvar.
Louvar o ventre que me gerou
O orixá que me tomou,
E a mão da doçura de Oxum que a consagrou.
Louvar a água de minha terra
O chão que me sustenta, o palco, o massapê,
A beira do abismo,
O punhal do susto de cada dia.
Agradecer as nuvens que logo são chuva,
Sereniza os sentidos
E ensina a vida a reviver.
Agradecer os amigos que fiz
E que mantém a coragem de gostar de mim, apesar de mim…
Agradecer a alegria das crianças,
As borboletas que brincam em meus quintais, reais ou não.

Agradecer a cada folha, a toda raiz, as pedras majestosas
E as pequeninas como eu, em Aruanda.
Agradecer o sol que raia o dia,
A lua que como o menino Deus espraia luz
E vira os meus sonhos de pernas pro ar.
Agradecer as marés altas
E também aquelas que levam para outros costados todos os males.
Agradecer a tudo que canta no ar,
Dentro do mato sobre o mar,
As vozes que soam de cordas tênues e partem cristais.
Agradecer os senhores que acolhem e aplaudem esse milagre.
Agradecer,
Ter o que agradecer.
Louvar e abraçar!

 

✍🏾. #AsMariasDaCasa
Contribuição de Ana Paula de Oliveira Quirino
Psicóloga e Psicanalista do corpo clínico da Casa de Maria