IDENTIFICANDO E NOMEANDO SENTIMENTOS

Tenho acompanhado vários pacientes em seu processo de nomear e ressignificar sentimentos. Este processo é fundamental para o resgate da identidade dos pacientes, bem como para a validação de sua humanidade e o rompimento de quadros de sofrimento enfrentados ao longo da vida.

Segundo Audre Lorde, escritora feminista, mulherista, lésbica e ativista dos direitos civis, “a transformação do silêncio em linguagem e em ação é um ato de autorrevelação, e isso sempre parece estar cheio de perigos […] No silêncio, cada uma de nós desvia o olhar de seus próprios medos – medo do desprezo, da censura, do julgamento, ou do reconhecimento, do desafio, do aniquilamento”  .

Audre compartilha sua experiência na busca de transformar o vazio do silêncio em uma linguagem, fala sobre o quanto este silêncio sufocava seus sentimentos e como entender e vivenciá-los a fez ser mais potente e atuante em sua vida. É possível que cada um de nós, ao seu modo, encontre sua própria forma de expressão. 

Um dos primeiros passos é nomear os sentimentos e entender o que eles sinalizam, o que eles dizem sobre o que você está vivendo. É um trabalho de auto-observação que, na prática, pode ser bastante difícil. 

Sabe aqueles momentos em que você quer compartilhar o que sente e não sabe como? Quando não identificamos de forma correta o que sentimos, não sabemos o que fazer com efeito que este sentimento causa. O silêncio toma conta e pode até parecer que tudo caiu no esquecimento, emoções podem não ser nomeadas, podem não ser comunicadas, mas se manifestam de alguma forma. Por exemplo, as vezes essas manifestações podem emergir em forma de adoecimento mental ou físico.

Além do uso da linguagem verbal como um meio de comunicação, é preciso passar pelo processo de autorizar-se sentir, ou seja, um caminho para ressignificação.

É necessário e urgente que você entenda que pode e deve falar e sentir suas emoções sem culpa. E, para isso, ter um lugar seguro, um espaço de autoconhecimento é fundamental para garantir que você comece e tenha o devido acolhimento, escuta. 

Existem lugares pré-moldados pela história, existem sentimentos supervalorizados e outros descartados, mas é possível se permitir criar o seu próprio lugar de onde é possível ter liberdade para expressar de algum modo, seus sentimentos, rever escolhas e a relação com o seu propósito de vida

 

✍🏽 #AsMariasDaCasa
Contribuição de Talita Santos,
psicóloga do nosso corpo clínico.