A revolução começa quando nos tratamos com mais gentileza

 

Por sermos mulheres pretas, escutamos constantemente que é necessário ser “três vezes melhor” em qualquer atividade para que haja aceitação alheia do que é produzido. Isso significa, basicamente, que é necessário estar sempre “à frente”. Não são permitidos erros. Isso seria inaceitável, pois tudo precisa ser absolutamente impecável, como forma de “compensar” a questão racial e de gênero.

Escuto constantemente em meus atendimentos clínicos sobre a autocobrança e a culpa perante o erro. Quando se é mulher preta, não há espaço para isso.

Entendo a necessidade de falarmos sobre a forma que o racismo atua. A ideia dele é justamente desumanizar, tornar a pessoa preta um objeto, longe de qualquer possibilidade de afeto, desejo ou ação. E isso também implica minar a possibilidade de errar. O que é mais humano do que errar?

Precisamos nos dar a possibilidade de errar. Precisamos entender que esses padrões de produtividade que nos são colocados não são humanos.

Aceitar e respeitar nossos limites e falhas é revolucionário, pois é também aceitar nossa humanidade. É não ter a sensação de estar sempre correndo atrás de um bonde que nunca nos deixa embarcar. É cansativo, um ciclo que não nos deixa em paz.

Os custos emocionais de habitar o lugar do inatingível são enormes. A rigidez que se cria com essa ideia nos atormenta a alma.

A revolução começa quando nos tratamos com mais gentileza, passamos a nos entender enquanto seres capazes de entregar seu melhor, mas também entendendo que não conseguiremos acertar sempre, e tudo bem! Somos humanas. Somos pessoas. Falhamos e nos permitimos falhar. Somos vulneráveis também, sentimos também. E que bom!

Apesar disso, não nos enganemos, é um exercício diário. Passamos uma vida reforçando e sendo reforçadas pela ideia da rigidez, então sim, é preciso paciência e cuidado. Mas pode ser libertador. Esse é o primeiro passo para um caminho cheio de descobertas sobre nossas potencialidades.

Então, vamos?

 
✍🏾 #AsMariasDaCasa
Contribuição de Mariana Terribas,
psicóloga do nosso corpo clínico.