História passada e adoção

“Eu perguntei se eles sabiam enrolar a língua […] aprendemos traços herdados na aula de ciências e enrolar a língua é um. Se eu conseguir encontrar pessoas que enrolam a língua, eles podem ser meus pais biológicos” (This Is Us).
Logo quando pensei no tema do texto me lembrei desse trecho da série This Is Us. Na cena o personagem Randall está no supermercado e conta para os pais adotivos que está procurando, entre os casais negros, aquele que consegue enrolar a língua, pois dessa forma, poderia encontrar seus pais biológicos.
Ao longo da trama, é possível observar a curiosidade a respeito de sua origem e a trajetória frente a construção de sua identidade. Esse interesse surge ainda na infância, marcado pelos momentos em que queria estar perto de pessoas pretas e ao criar histórias de quem poderia ser seu pai biológico e sua possível profissão. Isso se estende até a fase adulta, marcado pelo reencontro de Randall com o pai.
Nem todos os filhos vão desejar conhecer ou conviver com a família biológica como Randall, mas é inevitável surgir perguntas e anseios a respeito de seu passado, o desejo em compartilhar experiências ou compreender informações confusas como forma de encontrar pertencimento. Esse movimento pode acontecer de muitas formas, desde manifestações explícitas a implícitas, e em diferentes graus, podendo ser mais intenso ou não.
Na medida em que fui acompanhando Randall nessa jornada, me identifiquei com esse anseio porque de modo semelhante tento resgatar minhas origens, entender minha história e de meus antepassados e ressignificar experiências, mesmo eu não tendo sido adotada. A partir disso me questiono: seria esse um movimento natural do ser humano? O quanto isso é importante para as pessoas pretas?
Esse tema não acaba por aqui, pelo contrário, outros pontos precisam ser vistos, mas essa introdução vem como um convite para repensar esse assunto.
✍🏾 #AsMariasDaCasa
Contribuição de Lucila Xavier, 
psicóloga do nosso Corpo Clínico